Na noite morna, escura de breu, enquanto na vasta sanzala do céu, de volta de estrelas, quais fogaréus, os anjos escutam parábolas de santos... na noite de breu ao quente da voz de suas avós, meninos se encantam de contos bantos... "Era uma vez uma corça dona de cabra sem macho... ......................................... ... Matreiro, o cágado lento tuc... tuc... foi entrando para o conselho animal... ("- Tão tarde que ele chegou!") Abriu a boca e falou - deu a sentença final: "- Não tenham medo da força! Se o leão o alheio retém - luta ao Mal! Vitória ao Bem! tire-se ao leão, dê-se à corça." Mas quando lá fora o vento irado nas fresta chora e ramos xuaxalha de altas mulembas e portas bambas batem em massembas os meninos se apertam de olhos abertos: - Eué - É casumbi... E a gente grande - bem perto dali feijão descascando para o quitande- a gente grande com gosto ri... Com gosto ri, porque ela diz que o casumbi males só faz a quem não tem amor, aos mais seres buscam, em negra noite, essa outra voz de casumbi essa outra voz - Felicidade... Viriato da Cruz (No reino de Caliban II - antologia panorâmica de poesia africana de expressão portuguesa)
Xana Top 500
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Assunto: Re: Poesia Seg Nov 24, 2008 4:09 am
Gosto muito de poesia.Tenho pena de não saber o suficiente para escrever
:fruto 3:
Kaluanda Top 500
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Assunto: Re: Poesia Seg Nov 24, 2008 11:35 pm
ARLINDO BARBEITOS
Biografia
Arlindo do Carmo Pires Barbeitos, nasceu em Catete, Província de Icolo e Bengo, Angola, em 24 de Dezembro de 1940. Em 1961, foi obrigado a fugir de seu país por motivos políticos. Foi para a França, Bélgica, Suíça, Alemanha, onde cursou Antropologia e Sociologia na Universidade de Frankfurt. Doutorou-se em Etnologia e foi professor na Universidade Livre de Berlim Ocidental e na Universidade de Angola, país ao qual regressou em 1975. A sua poesia tem reminiscências da poética tradicional africana, de tradição oral, e das poesias chinesa e japonesa
Amanheceu/quem diria
amanheceu quem diria que inda agora hoje era ontem e que cacos ao longe não iam ser olhos de bicho quem diria que patos-bravos mergulhando não eram jacarés e que lagartos azuis iam a quatro patas quem diria que bosta de elefante não eram pedras e que guerrilheiros antigos iam pisar a sua mina quem diria que o professor cismando não era surdo e que os alunos não iam falar a sua língua quem diria que a moça do Muié que inda agora era virgem logo já o não é quem diria que inda agora hoje era ontem amanheceu
Kaluanda Top 500
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Assunto: Re: Poesia Ter Nov 25, 2008 11:17 pm
Ainda de Arlindo Barbeitos
"A feiticeira de olhar de prata"
a feiticeira de olhar de prata cansada da tranqüilidade de fronteiras e de acampamentos largou as pedrinhas que ficaram das pedras e se exilou para lá dos sonhos aí em sua libata de nuvens brancas e envolta em panos de bruma enrola linhas de horizonte em grossos novelos que por tardes de chuva desdobra pelo céu alto em longos arco-íris a feiticeira de olhar de prata me aguarda encoberta em mosquiteiro de brisa na sua funda alcova de luas e de estrelas devagar de lágrimas e sol ela vai tecendo a renda de meus dias
Kaluanda Top 500
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Assunto: Re: Poesia Sex Nov 28, 2008 8:34 pm
LUANDINO VIEIRA
José Luandino Vieira, nascido na Lagoa do Furadouro (Portugal) em 4 de Maio de 1935 é cidadão angolano pela sua participação no movimento de libertação nacional e contribuição no nascimento da República Popular de Angola. Passou toda a infância e juventude em Luanda onde frequentou e terminou o ensino secundário. Trabalhou em diversas profissões até ser preso em 1959 (Processo dos 50), é depois libertado e posteriormente (1961) de novo preso e condenado a 14 anos de prisão e medidas de segurança. Transferido, em 1954, para o Campo de Concentração do Tarrafal, onde passou 8 anos, foi libertado em 1972, em regime de residência vigiada em Lisboa. Iniciou então a publicação da sua obra na grande maioria escrita nas diversas prisões por onde passou.
Depois da Independência foi nomeado para a Televisão Popular de Angola, que organizou e dirigiu de 1975 a 1978; para o D. O. R. (Departamento de Orientação Revolucionária do MPLA) que dirigiu até 1979; para o I. A. C. (Instituto Angolano de Cinema) que organizou e dirigiu de 1979 a 1984.
ESTRADA
Luanda Dondo vão,
cento e tal quilômetros
mangas e cajus
marcos brancos
meninos nus
Branco algodão
crescendo
corpos negros
na cacimba
O Lucala corre
confiante
indiferente à ponte que ignora
Verdes matas
Sangram vermelhas acácias
imbondeiros festejam
o minuto da flor anual
Na estrada
o rebanho alinha
pelo verde
verde capim
Adivinhados
caqui lacraus
de capacete giz
Meninos
se embalam
em mães velhas
de varizes:
Rios azuis
da longa estrada
E é fevereiro
sardões ao sol
Cassoalala
Eia Mucoso
tão vazio outrora
tão cheio agora
Adivinhados
permanecem
lacraus caqui
capacetes giz
Não param as colheitas
Que razão seriam
fevereiro
acácias sangrando vermelho
verdes sisais
cantando o parto
da única flor?
Não param as colheitas!
(1963)
Xana Top 500
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Assunto: Re: Poesia Sáb Nov 29, 2008 4:28 am
amiga Kaluanda hoje dei uma voltinha por aqui e devo dizer:não gosto da forma de escrever do luandino vieira, dá-me volta aos neurónios :fruto 3:
Kaluanda Top 500
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Assunto: Re: Poesia Sáb Nov 29, 2008 5:49 pm
Pois é amiga!!
Mas é poesia angolana... quer gostemos ou não! Uns nascidos lá... outros nascidos cá... "ultimamente", uma forma estranha de escrever... Talvez o tal surrealismo literário do qual pouco ou nada entendo...
Bjs.
Kaluanda Top 500
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Assunto: Re: Poesia Seg Dez 01, 2008 1:09 am
Vadiagem
Naquela hora já noite quando o vento nos traz mistérios a desvendar musseque em fora fui passear as loucuras com os rapazes das ilhas: Uma viola a tocar o Chico a cantar (que bem que canta o Chico!) e a noite quebrada na luz das nossas vozes Vieram também, vieram também cheirando a flor de mato - cheiro grávido de terra fértil - as moças das ilhas sangue moço aquecendo a Bebiana, a Teresa, a Carminda, a Maria. Uma viola a tocar o Chico a cantar a vida aquecida com o sol esquecido a noite é caminho caminho, caminho, tudo caminho serenamente negro sangue fervendo cheiro bom a flor de mato a Maria a dançar (que bem que dança remexendo as ancas!) E eu a querer, a querer a Maria e ela sem se dar Vozes dolentes no ar a esconder os punhos cerrados alegria nas cordas da viola alegria nas cordas da garganta e os anseios libertados das cordas de nos amordaçar Lua morna a cantar com a gente as estrelas se namorando sem romantismo na praia da Boavista o mar ronronante a nos incitar Todos cantando certezas a Maria a bailar se aproximando sangue a pulsar sangue a pulsar mocidade correndo a vida peito com peito beijos e beijos as vozes cada vez mais bebadas de liberdade a Maria se chegando a Maria se entregando Uma viola a tocar e a noite quebrada na luz do nosso amor...
(António Jacinto)
Kaluanda Top 500
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Assunto: Re: Poesia Seg Dez 01, 2008 11:44 pm
Lembranças da minha Terra - Natália Vale
Kaluanda Top 500
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Assunto: Re: Poesia Qua Dez 10, 2008 11:26 pm
Prelúdio Pela estrada desce a noite... Mãe-Negra, desce com ela... Nem buganvilias vermelhas, nem vestidinhos de folhos, nem brincadeiras de guisos, nas suas mãos apertadas. Só duas lágrimas grossas, em duas faces cansadas. Mãe-Negra tem voz de vento, voz de silêncio batendo nas folhas do cajueiro... Tem voz de noite, descendo, de mansinho, pela estrada... Que é feito desses meninos que gostava de embalar?... Que é feito desses meninos que ela ajudou a criar?... Quem ouve agora as histórias que costumava contar?... Mãe-Negra não sabe nada... Mas aí de quem sabe tudo, como eu sei tudo Mãe-Negra! Os teus meninos cresceram, e esqueceram as histórias que customavas contar... Muitos partiram p'ra longe, quem sabe se hão-de voltar!... Só tu ficaste esperando, mãos cruzadas no regaço, bem quieta, bem calada. É tua a voz deste vento, desta saudade descendo, de mansinho pela estrada...
Alda Lara
Kaluanda Top 500
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Assunto: Re: Poesia Seg Dez 15, 2008 2:22 pm
ANA PAULA RIBEIRO TAVARES
Nasceu no Lubango, Huíla, Sul de Angola, em 1952. É historiadora, tendo obtido o grau de Mestre em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. A autora vem atuando em várias atividades ligadas à literatura e à história africana. Foi membro do júri do Prêmio Nacional de Literatura de Angola nos anos de 1988 a 1990 e responsável pelo Gabinete de Investigação do Centro Nacional de Documentação e Investigação Histórica, em Luanda, de 1983 a 1985. Em 1999, publicou vários estudos sobre a história de Angola na revista "Fontes & Estudos", de Luanda.
Obra poética:
Ritos de Passagem, 1985, Luanda, União dos Escritores Angolanos;
O Lago da Lua, 1999, Lisboa, Editorial Caminho.
Dizes-me coisas amargas como os frutos, 2001, Lisboa, Editorial Caminho.
Entre os lagos
Esperei-te do nascer ao pôr do sol e não vinhas, amado. Mudaram de cor as tranças do meu cabelo e não vinhas, amado. limpei a casa, o cercado fui enchendo de milho o silo maior do terreiro balancei ao vento a cabaça da manteiga e não vinhas, amado. Chamei os bois pelo nome todos me responderam, amado. Só tua voz se perdeu, amado, para lá da curva do rio depois da montanha sagrada entre os lagos.
(Dizes-me coisas amargas como os frutos)
Dombolo Top 500
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Assunto: Re: Poesia Dom Dez 21, 2008 7:59 pm
Oi Amigos,
Sei que não é o fio adequado, mas quando tropecei com eles aí pelos meandros da net., não pude deixar de os divulgar, pois tantas e boas lembranças me fazem.
Aí vão.....
É Literatura .................
Kaluanda Top 500
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Assunto: Re: Poesia Dom Dez 21, 2008 8:05 pm
Oi amigo!
Os meus também foram iguais e tenho-os cá em casa. Não os originais, mas iguaizinhos a esses!! Saudades... não é!!!
Esses livros também são poesia nas nossas vidas!! Deixa-os ficar onde estão!!!
Bjs.
Kaluanda Top 500
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Assunto: Re: Poesia Seg Dez 22, 2008 10:43 pm
Neste Natal
Neste Natal não peças só coisas boas porque, Quem passou pela vida em branca nuvem E em plácido repouso adormeceu Quem não sentiu o frio da desgraça, Quem passou pela vida e não sofreu... Foi espectro de homem, não foi homem, Só passou pela vida, não viveu!
(tirado da net)
Kaluanda Top 500
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Assunto: Re: Poesia Ter Dez 23, 2008 11:46 pm
Feliz Natal
Neste Natal que se anuncia, Rogamos com fé a Deus, Que encha o nosso coração de amor. E que o nosso coração tenha o espírito de paz... de bondade... e de compreensão... de irmandade... de caridade... e de multiplicação... E que dele emane o mais puro sentimento... revestido com um agradável aroma... de sabedoria... de vitória... de alívio... de esperança... de crença... Que o nosso coração seja potente... De induzir o amor entre as pessoas... De sermos de natureza tão forte... Para vencermos as tribulações da vida... Para vermos e compreendermos a luz divina... Que faz a luz do dia... Que dissipa as trevas... Que cria a beleza... Com toda a harmonia... Com toda a alegria... Que dá sentido à vida... Que faz tudo isso com amor...
Autor: Everaldo Cerqueira
Kaluanda Top 500
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Assunto: Re: Poesia Qui Dez 25, 2008 7:49 pm
Linda Poesia de Ano Novo
Quando as tempestades da vida Surgem escuras à minha frente, Me recordo de maravilhosas palavras Que uma vez eu li. E digo a mim mesmo: Quando pairarem nuvens ameaçadoras, Não dobre suas asas E não fuja para o abrigo.
Mas, faça como a águia, Abra largamente as suas asas E decole para bem alto, Acima dos problemas que a vida traz.
Pois a águia sabe Que quanto mais alto voar, Mais tranqüilos e mais brilhantes Tornam-se os céus.
E não há nada na vida Que Deus nos peça para carregar Que nós não possamos levar planando Com as asas da oração.
E ao olhar para trás Verá que a tempestade passou, Você encontrará novas forças E ganhará coragem também.
Fonte: Autor desconhecido
Kaluanda Top 500
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Assunto: Re: Poesia Sex Dez 26, 2008 10:01 pm
Poema de Fim de ano
Recomeça…. Se puderes Sem angústia E sem pressa. E os passos que deres, Nesse caminho duro Do futuro Dá-os em liberdade. Enquanto não alcances Não descanses. De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado, Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar. Sempre a sonhar e vendo O logro da aventura. És homem, não te esqueças! Só é tua a loucura Onde, com lucidez, te reconheças…
Miguel Torga
Kaluanda Top 500
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Assunto: Re: Poesia Sáb Dez 27, 2008 11:29 pm
Poema de Ano Novo
De repente, num instante fugaz, os fogos de artifício anunciam que o ano novo está presente e o ano velho ficou para trás. De repente, num instante fugaz, as taças de champagne se cruzam e o vinho francês borbulhante anuncia que o ano velho se foi e ano novo chegou. De repente, os olhos se cruzam, as mãos se entrelaçam e os seres humanos, num abraço caloroso, num só pensamento, exprimem um só desejo e uma só aspiração: PAZ E AMOR. De repente, não importa a nação, não importa a língua, não importa a cor, não importa a origem, porque todos são humanos e descendentes de um só Pai, os homens lembram-se apenas de um só verbo:AMAR De repente, sem mágoa, sem rancor, sem ódio, os homens cantam uma só canção, um só hino, o hino da liberdade. De repente, os homens esquecem o passado, lembram-se do futuro venturoso, de como é bom viver. Feliz Ano Novo !!!
(desconheço o autor)
Kaluanda Top 500
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Assunto: Re: Poesia Seg Dez 29, 2008 9:09 pm
Quisera escrever um poema de Ano Novo! Um poema tão contagiante quanto música. Um poema tão simples Que nem precisasse de tradução. Quisera escrever um poema novo, Desses que roçam a pele, arrepiam, tocam a alma. Quisera escrever um poema de Ano Novo! Que convocasse ao abraço, ao carinho. Um poema cálido como colo de mãe. Um poema que afastasse as mazelas, Um poema com a energia dos mantras Que doasse vida a quem recitasse E que trouxesse só alegrias aos ouvidos. Quisera escrever um poema todo vestido de branco Iluminado, como devem ser todos os dias. Um poema que saltasse dos livros E, como girândolas, girasse, pelas montanhas, Numa profusão de cores e brilhos. Quisera escrever um poema abençoado Um poema que abraçasse a todos Como uma graça, Despido de credos, fronteiras, linguagens. Quisera compor um poema cujas rimas Tivessem a riqueza de destruir os carrascos. Quisera escrever um poema de Ano Novo! Quisera envolver cada amigo com uma métrica mágica, Capaz de transformar, criar, soterrar injustiças. Quisera escrever tudo isso Na busca desse poema ideal, Acabei em apenas uma única palavra. Acabei, artífice, poeta incapaz, descobrindo Um único vocábulo… Síntese de toda minha ânsia. Aí está… Meu poema incompleto. Aí está….
(desconheço o autor)
Tita Top 100
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Assunto: Re: Poesia Sex Jan 02, 2009 4:07 pm
OFERTA
Quando todos passarem... Quando o longo desfile dos Pastores passar E passarem os Anjos E os Grandes do Mundo; Quando finalmente Todos passarem, Eu virei sem Estrelas nem Vento Pela estrada branca. Sob os pinheiros e a noite Virei magoada e só De alma em passos arrastados.
Não te verei: Passarei apenas Para deixar na neve, à tua porta Uma lágrima para ti.
(M.Luisa S. e Silva)
Kaluanda Top 500
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Assunto: Re: Poesia Sex Jan 02, 2009 4:49 pm
Xiiii amiga!!
Está pior que eu!!! Vamos lá a arribar com a poesia!!
Bjs.
Kaluanda Top 500
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Assunto: Re: Poesia Sex Jan 02, 2009 5:14 pm
É tão Suave a Fuga deste Dia
É tão suave a fuga deste dia, Lídia, que não parece, que vivemos. Sem dúvida que os deuses Nos são gratos esta hora,
Em paga nobre desta fé que temos Na exilada verdade dos seus corpos Nos dão o alto prêmio De nos deixarem ser
Convivas lúcidos da sua calma, Herdeiros um momento do seu jeito De viver toda a vida Dentro dum só momento,
Dum só momento, Lídia, em que afastados Das terrenas angústias recebemos Olímpicas delícias Dentro das nossas almas.
E um só momento nos sentimos deuses Imortais pela calma que vestimos E a altiva indiferença Às coisas passageiras
Como quem guarda a c'roa da vitória Estes fanados louros de um só dia Guardemos para termos, No futuro enrugado,
Perene à nossa vista a certa prova De que um momento os deuses nos amaram E nos deram uma hora Não nossa, mas do Olimpo.
Ricardo Reis, in "Odes" Heterónimo de Fernando Pessoa
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Assunto: Re: Poesia Sáb Jan 03, 2009 3:50 pm
AMOR SENTIMENTO NOBRE
O amor tem sua beleza Para aquele que nele acredita No amor não há mistério Mas somente os mais puros Os corações mais sinceros Conseguem sentir e vivê-lo. ........................................ Ah! O amor é loucura Nele não há ódio nem rancor Em qualquer instante De mãos estendidas está Vive aberto ao perdão Sem resquícios no coração.
Amor é um sentimento nobre Na alma ele se consome No entanto, para alguns é obscuro Pois o amor não se prende Muito menos se domina. (Ataíde Lemos)
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Assunto: Re: Poesia Dom Jan 04, 2009 6:22 pm
Alma Serena
Alma serena, a consciência pura, assim eu quero a vida que me resta. Saudade não é dor nem amargura, dilui-se ao longe a derradeira festa.
Não me tentam as rotas da aventura, agora sei que a minha estrada é esta: difícil de subir, áspera e dura, mas branca a urze, de oiro puro a giesta.
Assim meu canto fácil de entender, como chuva a cair, planta a nascer, como raiz na terra, água corrente.
Tão fácil o difícil verso obscuro! Eu não canto, porém, atrás dum muro, eu canto ao sol e para toda a gente.
Fernanda de Castro, in "Ronda das Horas Lentas"
Kaluanda Top 500
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Assunto: Re: Poesia Dom Jan 04, 2009 6:26 pm
Elogio da Distância
Na fonte dos teus olhos vivem os fios dos pescadores do lago da loucura. Na fonte dos teus olhos o mar cumpre a sua promessa.
Aqui, coração que andou entre os homens, arranco do corpo as vestes e o brilho de uma jura:
Mais negro no negro, estou mais nu. Só quando sou falso sou fiel. Sou tu quando sou eu.
Na fonte dos teus olhos ando à deriva sonhando o rapto.
Um fio apanhou um fio: separamo-nos enlaçados.
Na fonte dos teus olhos um enforcado estrangula o baraço.
Paul Celan, in "Papoila e Memória"
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Assunto: Re: Poesia Dom Jan 04, 2009 6:34 pm
Silêncio, Nostalgia...
Silêncio, nostalgia... Hora morta, desfolhada, sem dor, sem alegria, pelo tempo abandonada.
Luz de Outono, fria, fria... Hora inútil e sombria de abandono. Não sei se é tédio, sono, silêncio ou nostalgia.
Interminável dia de indizíveis cansaços, de funda melancolia. Sem rumo para os meus passos, para que servem meus braços, nesta hora fria, fria?