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| | Poesia | |
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Autor | Mensagem |
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lopes Moderador
| Assunto: Re: Poesia Qui Abr 09, 2009 1:17 am | |
| O Monstrengo O mostrengo que está no fim do mar, Na noite de breu ergueu-se a voar; À roda da nau voou três vezes, Voou três vezes a chiar, e disse."Quem é que ousou entrar Nas minhas cavernas que não desvendo, Meus tectos negros do fim do mundo?" E o homem do leme disse tremendo, "El rei D.João Segundo"! "De quem são as velas donde me roço? De quem as quilhas que vejo e ouço?" Disse o monstrengo, e rodou três vezes, Três vezes rodou imundo e grosso, "Quem vem poder o que só eu posso, Que moro onde nunca ninguém me visse E escorro os medos do mar sem fundo?" E o homem do leme tremeu, e disse, "El rei D.João Segundo!" Três vezes do leme a mão ergueu, Três vezes ao leme as repreendeu, E disse no fim de tremer três vezes, "Aqui ao leme sou mais do que eu; Sou um povo que quer o mar que é teu. E mais que o monstrengo, que me a alma teme E roda nas trevas do fim do mundo. Manda a vontade, que me ata ao leme, De El rei D.João Segundo!" Fernando Pessoa | |
| | | Kaluanda Top 500
Idade : 74 Localização : Portugal bandeiras dos países : Reputação do usuário :
| Assunto: Re: Poesia Qui Abr 09, 2009 1:00 pm | |
| Oi Lopes
Eu já tinha colocado "O Mostrengo"...
Mas deixa, é sempre lindo de ler!...
Bjs. | |
| | | Kaluanda Top 500
Idade : 74 Localização : Portugal bandeiras dos países : Reputação do usuário :
| Assunto: Re: Poesia Qui Abr 09, 2009 1:01 pm | |
| Hoje que a tarde é calma e o céu tranqüilo
Hoje que a tarde é calma e o céu tranqüilo, E a noite chega sem que eu saiba bem, Quero considerar-me e ver aquilo Que sou, e o que sou o que é que tem.
Olho por todo o meu passado e vejo Que fui quem foi aquilo em torno meu, Salvo o que o vago e incógnito desejo Se ser eu mesmo de meu ser me deu.
Como a páginas já relidas, vergo Minha atenção sobre quem fui de mim, E nada de verdade em mim albergo Salvo uma ânsia sem princípio ou fim.
Como alguém distraído na viagem, Segui por dois caminhos par a par Fui com o mundo, parte da paisagem; Comigo fui, sem ver nem recordar.
Chegado aqui, onde hoje estou, conheço Que sou diverso no que informe estou. No meu próprio caminho me atravesso. Não conheço quem fui no que hoje sou.
Serei eu, porque nada é impossível, Vários trazidos de outros mundos, e No mesmo ponto espacial sensível Que sou eu, sendo eu por `'star aqui ?
Serei eu, porque todo o pensamento Podendo conceber, bem pode ser, Um dilatado e múrmuro momento, De tempos-seres de quem sou o viver ?
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Fernado Pessoa | |
| | | Kaluanda Top 500
Idade : 74 Localização : Portugal bandeiras dos países : Reputação do usuário :
| Assunto: Re: Poesia Qui Abr 09, 2009 9:40 pm | |
| Como um vento na florestaComo um vento na floresta. Minha emoção não tem fim. Nada sou, nada me resta. Não sei quem sou para mim.
E como entre os arvoredos Há grandes sons de folhagem, Também agito segredos No fundo da minha imagem.
E o grande ruído do vento Que as folhas cobrem de som Despe-me do pensamento : Sou ninguém, temo ser bom.
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Fernando Pessoa | |
| | | Tita Top 100
Idade : 73 Localização : Portugal bandeiras dos países : Reputação do usuário :
| Assunto: Re: Poesia Sex Abr 10, 2009 1:12 pm | |
| Há um país imenso mais real
Há um país imenso mais real Do que a vida que o mundo mostra Ter Mais do que a Natureza natural À verdade tremendo de viver.
Sob um céu uno e plácido e normal Onde nada se mostra haver ou ser Onde nem vento geme, nem fatal A idéias de uma nuvem se faz crer,
Jaz - uma terra não - não há um solo Mas estranha, gelando em desconsolo À alma que vê esse país sem véu,
Hirtamente silente nos espaços Uma floresta de escarnados braços Inutilmente erguidos para o céu.
Fernando Pessoa | |
| | | Kaluanda Top 500
Idade : 74 Localização : Portugal bandeiras dos países : Reputação do usuário :
| Assunto: Re: Poesia Dom Abr 12, 2009 12:00 pm | |
| | Páscoa de Amor
Mírian Warttusch | | | Vamos subir aos céus, como Jesus Sentindo a alma leve e flutuante Deixar no chão tudo que é mau (não satisfaz) E encontrar no alto nosso Deus amante!
Sentir que a vida não é somente sonhos A luta é dura, perversa, mas convém. Pois se o caminho é tortuoso e cansa, Encontraremos ao fim,nosso supremo bem!
Vamos fazer por merecer a elevação - Fraternidade, carinho e fé no coração - Quando no alto, não nos esquecer De quem precisa e que ficou no chão!
Vamos erguer o irmão dessa pobreza E lhe mostrar que a vida fica bem melhor Se na conquista da riqueza verdadeira Tivermos no peito um coração maior!
Ressurreição e Páscoa triunfantes! Após o sofrimento que acabou na cruz Mas para nós seus filhos, reservou fiel Eternidade ao seu lado, vida e muita luz! |
(Retirado da net) | |
| | | Kaluanda Top 500
Idade : 74 Localização : Portugal bandeiras dos países : Reputação do usuário :
| Assunto: Re: Poesia Seg Abr 13, 2009 4:17 pm | |
| VÉSPER
A noite faz-se bela e iluminada. Vésper brilhante, a confidente amiga Surgiu no azul, estrela abençoada Cujo fulgor os corações abriga!
E, da tela infinita a luz dourada, Essa luz que consola e que mitiga A saudade, o pesar, a dor antiga No eflúvio do céu carícia amada.
Desperta dentro em mim viva lembrança De ventura que foge e não se alcança, Por que no mundo é tudo falso e vão.
E enquanto pelo céu Vésper fulgura, Sinto envolver-me a treva da amargura A noite sem estrela e sem clarão.
Francisca Clotilde. A Estrella, dez de 1915
Contribuição de Anamélia Mota | |
| | | lopes Moderador
Idade : 76 Localização : Portugal bandeiras dos países : Reputação do usuário :
| Assunto: Re: Poesia Ter Abr 14, 2009 12:36 am | |
| Amiga Kaluanda Desculpa-me pela repetição,da minha parte de um ou mais poemas que tu já tinhas colocado,mas como o fio já contem muitos,é possivel que estas repetições voltem a acontecer;a não ser que se arranje uma maneira prática de se poder visualisar o que já foi escrito para não cometer esse erro,mas eu não vislumbro qual possa ser. bjs. Toni Lopes... | |
| | | Kaluanda Top 500
Idade : 74 Localização : Portugal bandeiras dos países : Reputação do usuário :
| Assunto: Re: Poesia Ter Abr 14, 2009 5:15 pm | |
| Oi Lopes
Não era para pedir desculpa, amigo!
Foi só um comentário sem importância...
Desculpa tu!!!
Bjs. | |
| | | Kaluanda Top 500
Idade : 74 Localização : Portugal bandeiras dos países : Reputação do usuário :
| Assunto: Re: Poesia Ter Abr 14, 2009 5:17 pm | |
| AO CORAÇÃO
Porque suspiras, coração dolorido? Ermo de afetos, cheio de amargura! Fugiu de ti a plácida ventura! Eis-te sozinho, a suspirar descrido!
Não mais no mundo pérfido, iludido. Serás de afetos vãos da criatura, Brilha em teu céu uma esperança pura, É Deus que atenta o ser desiludido!
Busca o conforto místico, que vem Trazer-te a luz, que dimanou do bem, E que fulgiu nos braços de uma cruz;
Despreza os bens efêmeros da terra, Busca o tesouro que somente encerra O amor perfeito que sonhou Jesus.
Francisca Clotilde, Almanack dos Municípios do Ceará, 1908
Contribuição de Anamélia Mota | |
| | | Kaluanda Top 500
Idade : 74 Localização : Portugal bandeiras dos países : Reputação do usuário :
| Assunto: Re: Poesia Ter Abr 14, 2009 5:23 pm | |
| À PAZ
Estende sobre nós as asas benfazejas, Afasta para longe a sanguinária guerra; És astro protetor, a iluminar a terra, És anjo divinal nas hórridas pelejas.
Teu sorriso traz bonança e, qual íris, descerra O negror da procela... Abençoada sejas; Oh! Paz consoladora o nosso bem almejas, Estrela vesperal que doce luz encerra.
Vem os homens unir, vem espalhar o amor, Tem pena do sofrer das mães em ansiedade, De ternos corações mova-te a íngreme dor;
Temos sede de ti, lenitiva à orfandade, Com eflúvios do céu, num gesto animador, Lembra o santo dever, as leis da caridade!
Francisca Clotilde, A Estrella, fev. de 1918
Contribuição de Anamélia Mota | |
| | | Cazimar Adm/Moderação
Idade : 68 Localização : Portugal bandeiras dos países : Reputação do usuário :
| Assunto: Re: Poesia Ter Abr 14, 2009 6:56 pm | |
| imersa em sereno de lusco-fusco imersa em sereno de lusco-fusco e suspensa em vazio
São-Tomé
carrocel de montanhas carregador de nuvens transportados de sonhos irrompendo de abismo de espuma e sumindo em precipício de bruma
São-Tomé
suspensa em vazio e imersa em sereno de lusco-fusco
(Arlindo de Barbeitos - Poeta Angolano) | |
| | | Dombolo Top 500
Idade : 76 Localização : Portugal bandeiras dos países : Reputação do usuário :
| Assunto: Re: Poesia Ter Abr 14, 2009 10:47 pm | |
| BONS AMIGOSAbençoados os que possuem amigos, os que os têm sem pedir. Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende. Amigo a gente sente!
Benditos os que sofrem por amigos, os que falam com o olhar. Porque amigo não se cala, não questiona, nem se rende. Amigo a gente entende!
Benditos os que guardam amigos, os que entregam o ombro pra chorar. Porque amigo sofre e chora. Amigo não tem hora pra consolar!
Benditos sejam os amigos que acreditam na tua verdade ou te apontam a realidade. Porque amigo é a direção. Amigo é a base quando falta o chão!
Benditos sejam todos os amigos de raízes, verdadeiros. Porque amigos são herdeiros da real sagacidade. Ter amigos é a melhor cumplicidade!
Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho, Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas![Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link] | |
| | | lopes Moderador
Idade : 76 Localização : Portugal bandeiras dos países : Reputação do usuário :
| Assunto: Re: Poesia Qua Abr 15, 2009 1:04 am | |
| (dream)
Qualquer coisa de obscuro permanece No centro do meu ser.Se me conheço, É até onde,por fim mal tropeço No que de mim em si se esquece.
Aranha absurda que uma teia tece Feita de solidão e de começo Fruste,meu ser anónimo confesso Próprio e em mim mesmo a externa treva desce.
Mas,vinda dos vestígios da distância Ninguém trouxe ao meu pálio por ter gente Sob ele,um rasgo de saudade ou ânsia.
Remiu-se o pecador impenitente À sombra da cisma.Teve a eterna infância, Em que comigo forma um mesmo ente.
Fernando Pessoa | |
| | | lopes Moderador
Idade : 76 Localização : Portugal bandeiras dos países : Reputação do usuário :
| Assunto: Re: Poesia Qua Abr 15, 2009 1:11 am | |
| Quem me dera que eu fosse o pó da estrada Quem me dera que eu fosse o pó da estrada E que os pés dos pobres me estivessem pisando... Quem me dera que eu fosse os rios que correm E que as lavadeiras estivessem à minha beira... Quem me dera que eu fosse os choupos à margem do rio E tivessem só o céu por cima e a água por baixo... Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro E que ele me batesse e me estimasse... Antes isso que ser o que atravessa a vida Olhando para atrás de si e tendo pena... Alberto Caeiro Toni Lopes | |
| | | Cazimar Adm/Moderação
Idade : 68 Localização : Portugal bandeiras dos países : Reputação do usuário :
| Assunto: Re: Poesia Qui Abr 16, 2009 10:39 pm | |
| Amanhecer na Katumbela
Kukiou o dia no canto de um passarinho do muxitu Ouvi e sem depressa como quem sonha inda
vi no Katumbela rio-sacarino minha mangonha canoa nas águas lentas A sensação de nenhum tempo Estar
E olhei a planície o vale lugar onde o canavial é dono é posse o seu silêncio coisas homens numa canção de abandono
E não ouvi demais que o canto da madrugada tinha a voz do murmúrio de kaxexe
Apenas e lentamente renascia em mim um novo sono
Então com de repente despertei
(Arnaldo Santos - Poeta Angolano) | |
| | | lopes Moderador
Idade : 76 Localização : Portugal bandeiras dos países : Reputação do usuário :
| Assunto: Re: Poesia Sex Abr 17, 2009 11:18 pm | |
| "Das águas que o rino escolhe"
Das águas que o rino escolhe da pedra a que o vento encosta do unto a que o tempo obriga
dos sais que a estação abriga do pasto a que o gado aspira da lua em que o vento vira
Não há pastor que não saiba.
Não há pastor que não saia de alguma curva de infância.
Rui Duarte Carvalho ( poeta Angolano) | |
| | | lopes Moderador
Idade : 76 Localização : Portugal bandeiras dos países : Reputação do usuário :
| Assunto: Re: Poesia Sex Abr 17, 2009 11:29 pm | |
| Canção de guerra (origem Kwanyama)
O covarde ficou Voltou para trás agiu de acordo com a mãe. De nós porém bravos homens muitos morreram porque lutaram
(chora a hiena chora a hiena chora) o nosso camarada jáz no chão não dormirá connosco ali o deixamos pernas e pés na berma da estrada a cabeça tombada no meio da rama.
Soldados de Nekanda conquistadores de gado para Hayvinga filho de Nasitai: Somos rivais em casa pelas mulheres Na guerra,na floresta somos da mesma mãe
(1988,hábito da terra) Rui Duarte Carvalho (poeta Angolano) | |
| | | lopes Moderador
Idade : 76 Localização : Portugal bandeiras dos países : Reputação do usuário :
| Assunto: Re: Poesia Dom Abr 19, 2009 12:47 am | |
| O elefante
O enorme elefante É o animal mais infeliz Da floresta
Todos Até a pulga minúscula E asquerosa Lhe trepam no lombo
Homem que engole tudo É como o pobre elefante De nada lhe serve Ser trombudo
João de Melo (poeta Angolano) in fabulema,UEA,luanda 1986 | |
| | | lopes Moderador
Idade : 76 Localização : Portugal bandeiras dos países : Reputação do usuário :
| Assunto: Re: Poesia Dom Abr 19, 2009 12:53 am | |
| Caçando gambozinos Vem caçar gambozinos Jovem d´olhar brilhante E eterno coração Vem Sem nada trazer na mão E esperes não Que eu t´empreste Meu alçapão Vem E aprende à tua custa Que a vida não é senão Uma eterna caçada Aos gambozinos Esse animal feito de sonho E ilusão E que assim mesmo Vale a pena a perseguição. João de Melo in fabulema,UEA,luanda 1986 Toni Lopes... | |
| | | Kaluanda Top 500
Idade : 74 Localização : Portugal bandeiras dos países : Reputação do usuário :
| Assunto: Re: Poesia Dom Abr 19, 2009 12:09 pm | |
| Prestigiando a título póstumo, uma angolana que amava angola sem limites e incondicionalmente.....a essência do que deve ser a lusofonia..... " Quando eu morrer... não quero orações nem cruzes sobre a campa... Irei dormir sob as acácias rutilantes que tanto amei. E ao entardecer, as flores em chama irão tecer um manto de cor e de calor p'ra me cobrir.... E as aves hão-de vir cantar em dias estivais; e os Poetas hão-de passar e de rezar sobre a campa sem cruz... tendo, apenas, as canções das aves e o rir rutilante das acácias em flor....... (homenagem a Honorinda Cerveira) | |
| | | lopes Moderador
Idade : 76 Localização : Portugal bandeiras dos países : Reputação do usuário :
| Assunto: Re: Poesia Seg Abr 20, 2009 12:15 am | |
| mais um poeta Angolano
Respiração das folhas
susurro a respiração das folhas com ansiedade asmática colhendo litorais de mabangas e espreitando o interior das jinguengas numa manhã de orvalho.
há sempre olhos à espreita. há sempre olhos à beira do tempo plantados,quais outeiros de sons e palavras medulares cantando a respiração das folhas.
Conceição Cristovão | |
| | | lopes Moderador
Idade : 76 Localização : Portugal bandeiras dos países : Reputação do usuário :
| Assunto: Re: Poesia Seg Abr 20, 2009 12:22 am | |
| Idade da pedra
( há um discurso de facas nas fronteiras lívidas do rosto. a madrugada morre de leucemia e ávidas as florestas não revelam as crateras abertas.
Linguas de fogo economizam tristezas,deslizam águas na luz da pedra. oh,vidas de pedra,náuseas de pedra,na dura frágil idade da pedra.)
Conceição Cristovão | |
| | | Kaluanda Top 500
Idade : 74 Localização : Portugal bandeiras dos países : Reputação do usuário :
| Assunto: Re: Poesia Dom Abr 26, 2009 2:09 pm | |
| Marinetti Acadêmico
Véspera de viagem, campainha... Não me sobreavisem estridentemente!
Quero gozar o repouso da gare da alma que tenho Antes de ver avançar para mim a chegada de ferro Do comboio definitivo, Antes de sentir a partida verdadeira nas goelas do estômago, Antes de pôr no estribo um pé Que nunca aprendeu a não ter emoção sempre que teve que partir. Quero, neste momento, fumando no apeadeiro de hoje, Estar ainda um bocado agarrado à velha vida. Vida inútil, que era melhor deixar, que é uma cela? Que importa? Todo o Universo é uma cela, e o estar preso não tem que ver com o tamanho da cela.
Sabe-me a náusea próxima o cigarro. O comboio já partiu da outra estação... Adeus, adeus, adeus, toda a gente que não veio despedir-se de mim, Minha família abstrata e impossível... Adeus dia de hoje, adeus apeadeiro de hoje, adeus vida, adeus vida! Ficar como um volume rotulado esquecido, Ao canto do resguardo de passageiros do outro lado da linha. Ser encontrado pelo guarda casual depois da partida - "E esta? Então não houve um tipo que deixou isto aqui?" - Ficar só a pensar em partir, Ficar e ter razão, Ficar e morrer menos ...
Vou para o futuro como para um exame difícil. Se o comboio nunca chegasse e Deus tivesse pena de mim?
Já me vejo na estação até aqui simples metáfora. Sou uma pessoa perfeitamente apresentável. Vê-se - dizem - que tenho vivido no estrangeiro.
Os meus modos são de homem educado, evidentemente. Pego na mala, rejeitando o moço, como a um vicio vil. E a mão com que pego na mala treme-me e a ela.
Partir! Nunca voltarei, Nunca voltarei porque nunca se volta. O lugar a que se volta é sempre outro, A gare a que se volta é outra. Já não está a mesma gente, nem a mesma luz, nem a mesma filosofia.
Partir! Meu Deus, partir! Tenho medo de partir!... | Fernando Pessoa (Álvaro de Campos) | |
| | | lopes Moderador
Idade : 76 Localização : Portugal bandeiras dos países : Reputação do usuário :
| Assunto: Re: Poesia Seg Abr 27, 2009 12:25 am | |
| O Convertido
Entre os filhos dum século maldito Tomei também lugar na ímpia mesa, Onde,sob o folgar,geme a tristeza, Duma ânsia impotente de infinito.
Como os outros cuspi no altar avito Um rir feito de fel e de impureza... Mas um dia abalou-se-me a firmeza, Deu-me um rebate o coração contrito!
Ermo,cheio de tédio e de quebranto, Rompendo os diques ao represo pranto, Virou-se para Deus minha alma triste!
Amortalhei na fé o pensamento, E achei a paz na inércia e esquecimento... Só me falta saber se Deus existe.
Antero de Quental | |
| | | lopes Moderador
Idade : 76 Localização : Portugal bandeiras dos países : Reputação do usuário :
| Assunto: Re: Poesia Seg Abr 27, 2009 12:37 am | |
| Mors-Amor Esse negro corcel cujas passadas Escuto em sonhos,quando a sombra desce, E,passando a galope,me aparece De noite nas fantásticas estradas, Donde vem ele?Que regiões sagradas E terríveis cruzou,que assim parece Tenebroso e sublime,e lhe estremece Não sei que horror nas crinas agitadas? Um cavaleiro de expressão potente, Formidável, mas plácido,no porte, Vestido de armadura reluzente, Cavalga a fera estranha sem temor: E o corcel negro diz:"Eu sou a morte!" Responde o cavaleiro:"Eu sou o amor!" Antero de Quental Toni Lopes | |
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| Assunto: Re: Poesia | |
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