Gostava que no próximo Verão, Voltasse aquela alegria sem fim, Que as flores florissem só para mim, Que este Sol quente gritasse, Tanto no nascente, como no poente, A rapariga gaiata que eu fui.
Fico para aqui sozinha, Procuro o que não vou mais encontrar, Fujo da realidade, Vivo da saudade.
Queria ter a força de um tufão E fazer tudo de um turbilhão. Fazer com que o céu fosse sempre azul, Que os dias fossem de tons irreais, Que não mais houvesse dor, Só Paz e Amor.
Isabel Santos
25 de Janeiro, 2009
lopes Moderador
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Assunto: Re: Poesia Sex Mar 05, 2010 5:54 pm
Depois da vida
Quando meu coração parar desfeito, Em sombra na profunda sepultura; E o meu corpo espectral e já perfeito, Divagar entre o Olimpo e a terra dura;
Quando sentir,enfim,todo o meu peito A converter-se em luminosa altura; Eu,aquele fantasma,o claro eleito, O enviado da vida à morte escura;
Ah,quando,em mim,eu for minha esperança Meu próprio ser,divino e redimido, A minha sombra apenas for lembrança,
Bem longe,em outro mundo transcendente, À luz dum sol jamais anoitecido, Serei contigo,amor,eternamente.
( Das elegias )
Teixeira de Pascoais 1877-1952
Kandandos
Toni Lopes
bengo Top 500
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Assunto: Re: Poesia Sex Mar 05, 2010 9:47 pm
Falas de civilização...
Falas de civilização, e de não dever ser, Ou de não dever ser assim. Dizes que todos sofrem, ou a maioria de todos, Com as coisas humanas postas desta maneira, Dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos. Dizes que se fossem como tu queres, seriam melhor. Escuto sem te ouvir. Para que te quereria eu ouvir? Ouvindo-te nada ficaria sabendo. Se as coisas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo. Se as coisas fossem como tu queres, seriam só como tu queres. Ai de ti e de todos que levam a vida A querer inventar a máquina de fazer felicidade!
Alberto Caeiro
I. santos Top 20
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Assunto: Re: Poesia Sáb Mar 06, 2010 7:47 pm
Olá Bengo,
Como é que você sabia que eu adoro a poesia de Fernando Pessoa (Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis,...)?
Para mim, Pessoa, para além de poeta, foi um grande pensador, um grande filósofo. Ele escreveu poemas com conteúdos completamente díspares, atribuindo a sua autoria a vários heterónimos que ele criou. Mas foi ainda mais longe, para cada um desses heterónimos, ele imaginou uma biografia de forma a harmonizá-la com o conteúdo desses poemas. Enfim, uma forma perfeita de demonstrar que o pensamento de cada ser humano está inexoravelmente ligado à sua vivência.
Os meus meninos gostam particularmente deste poema:
LIBERDADE
Ai que prazer não cumprir um dever. Ter um livro para ler e não o fazer! Ler é maçada, estudar é nada. O sol doira sem literatura. O rio corre bem ou mal, sem edição original. E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal como tem tempo, não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta. Estudar é uma coisa em que está indistinta A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto melhor é quando há bruma. Esperar por D. Sebastião, Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças... Mas o melhor do mundo são as crianças, Flores, música, o luar, e o sol que peca Só quando, em vez de criar, seca.
E mais do que isto É Jesus Cristo, Que não sabia nada de finanças, Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa
fatima berenguel Top 500
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Assunto: Re: Poesia Dom Mar 07, 2010 11:32 pm
SONETO
Em memória de Aurélio Cunha Bengala
Surge Janeiro frio e pardacento, Descem da serra os lobos ao povoado; Assentam-se os fantoches em São Bento E o Decreto da fome é publicado.
Edita-se a novela do Orçamento; Cresce a miséria ao povo amordaçado; Mas os biltres do novo parlamento Usufruem seis contos de ordenado.
E enquanto à fome o povo se estiola, Certo santo pupilo de Loyola, Mistura de judeu e de vilão,
Também faz o pequeno “sacrifício” De trinta contos – só! – por seu ofício Receber, a bem dele... e da nação.
JOSÉ RÉGIO
fatima berenguel Top 500
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Assunto: Re: Poesia Seg Mar 08, 2010 5:31 pm
A todas as mulheres:
A Mulher ideal ...
É aquela que é maravilhosa acima de tudo.
Que pode com um sorriso provocar amor e felicidade.
A Mulher ideal ...
É aquela que é simples por natureza.
Que pode explanar com simples gestos toda a sua feminilidade e grandeza.
A Mulher ideal ...
É aquela que sabe como ninguém entender os sinais do amado antevendo
lhe os movimentos estando sempre ao seu lado.
A Mulher ideal ...
É aquela que não seja perfeita, pois somente Deus o é, mas que busque a
perfeição em todos os seus gestos.
A Mulher ideal ...
É aquela que mostra a sua beleza todos os dias, como no primeiro encontro.
Fazendo dos momentos com o seu amado um eterno reencontro.
A Mulher ideal ...
É aquela que mesmo com o passar dos anos, tenha sempre o sorriso de
menina, pois o enrugar da pele é ínfimo perante a alma feminina.
A Mulher ideal ...
É aquela que se apresenta perante a sociedade como a mais formosa dama.
Mas quando na intimidade partilhe todos os segredos..
Enfim, a Mulher ideal ...
É aquela que mesmo não sendo Deusa, sabe como ninguém trazer um
pedacinho do céu.
I. santos Top 20
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És o brotar da Primavera, És o calor do meu Verão, O Outono, esse, já era, Não sinto frio no Inverno, Porque me aqueces o coração.
Isabel Santos 19/04/2009
bengo Top 500
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Assunto: Re: Poesia Ter Mar 09, 2010 8:03 pm
Amigos
Quero aqui prestar a minha homenagem á poetisa S. Tomense Alda Espírito Santo, falecida esta madrugada em Luanda.
ILHA NUA
Coqueiros e palmares da Terra Natal Mar azul das ilhas perdidas na conjuntura dos séculos Vegetação densa no horizonte imenso dos nossos sonhos. Verdura, oceano, calor tropical Gritando a sede imensa do salgado mar No deserto paradoxal das praias humanas Sedentas de espaço e devida Nos cantos amargos do ossobô Anunciando o cair das chuvas Varrendo de rijo a terra calcinada Saturada do calor ardente Mas faminta da irradiação humana Ilhas paradoxais do Sul do Sará Os desertos humanos clamam Na floresta virgem Dos teus destinos sem planuras...
in É Nosso o Solo Sagrada da Terra, 1978, Lisboa, Ulmeiro
I. santos Top 20
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Sinto uma saudade imensa Da esteira em que eu não durmo, Das batucadas que eu não ouço, Do calor da fogueira que eu não sinto…
Mas pressinto Em cada dia que raia, Em cada noite que passa, Em cada onda que espraia…
Gostaria de voltar, Ver de novo o baloiçar Das folhas das palmeiras, De dia o Sol, de noite o luar.
Deixar embriagar o meu olhar No feitiço do teu crepúsculo, Sentada na areia,
Fazer uma fogueira E saltar, saltar… Até me cansar!
Isabel Santos 25 de Janeiro, 2009
fatima berenguel Top 500
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Assunto: Re: Poesia Seg Mar 15, 2010 2:49 pm
Monangamba
Naquela roca grande tem café maduro e aquele vermelho-cereja são gotas do meu sangue feitas seiva.
O café vai ser torrado pisado, torturado, vai ficar negro, negro da cor do contratado.
Negro da cor do contratado!
Perguntem às aves que cantam, aos regatos de alegre serpentear e ao vento forte do sertão:
Quem se levanta cedo? quem vai à tonga? Quem traz pela estrada longa a tipóia ou o cacho de dendém? Quem capina e em paga recebe desdém fuba podre, peixe podre, panos ruins, cinqüenta angolares "porrada se refilares"?
Quem?
Quem faz o milho crescer e os laranjais florescer - Quem?
Quem dá dinheiro para o patrão comprar maquinas, carros, senhoras e cabeças de pretos para os motores?
Quem faz o branco prosperar, ter barriga grande - ter dinheiro? - Quem?
E as aves que cantam, os regatos de alegre serpentear e o vento forte do sertão responderão: - "Monangambééé..."
Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras Deixem-me beber maruvo, maruvo e esquecer diluído nas minhas bebedeiras
- "Monangambééé...
António Jacinto
fatima berenguel Top 500
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Assunto: Re: Poesia Seg Mar 15, 2010 4:36 pm
A Vida
A vida é o dia de hoje,
A vida é ai que mal soa,
A vida é sombra que foge,
A vida é nuvem que voa.
A vida é sonho tão leve,
Que se desfaz com a neve
E como o fumo se esvai.
A vida dura um momento;
Mais leve que o pensamento,
A vida leva-a o vento,
A vida é folha que cai!
A vida é flor na corrente,
A vida é sopro suave,
A vida é estrela cadente,
Voa mais leve que a ave,
Nuvem que o vento nos ares,
Onda que o vento nos mares,
Uma após outra lançou,
A vida, pena caída
De asa de ave ferida,
De vale em vale impelida.
A vida, o vento a levou!
João de Deus
fatima berenguel Top 500
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Em S. Paulo da Missão quando o sol se apagava na areia vermelha (nos fundos por trás da quitanda) a negra Arminda abria devagar a cancela de madeira e sozinha sem ajuda de ninguém ia no Burity ou no Sô Santo beber.
Muitas vezes ela 'tá ficando tarde toda sentada na esteira os olhos longamente postos no vago contando história do tempo antigo em jeito de assombração.
A garotada em roda dela escuta só E suspensa vê vê mesmo correr a vida nos olhos sem vida da velha Arminda.
João Maria Vilanova (Angola)
lopes Moderador
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Assunto: Re: Poesia Seg Mar 15, 2010 10:52 pm
Lágrimas Ocultas
Se me ponho a cismar em outras eras Em que ri e cantei,em que era querida, Parece-me que foi noutras esferas, Parece-me que foi noutra vida...
E a minha triste boca dolorida, Que dantes tinha o rir das primaveras, Esbate as linhas graves e severas E cai num abandono de esquecida!
E fico,pensativa,olhando o vago... Toma a brandura plácida dum lago O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro,branca e calma, Ninguém as vê brotar dentro da alma! Ninguém as vê cair dentro de mim!
Florbela Espanca.
lopes Moderador
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Assunto: Re: Poesia Seg Mar 15, 2010 11:16 pm
Exaltação
Viver!..Beber o vento e o sol !...Erguer Ao Céu os corações a palpitar ! Deus fez os nossos braços pra prender, E a boca fez-se sangue pra beijar !
A chama, sempre rubra ,ao alto, a arder!... Asas sempre perdidas a pairar, Mais alto para as estrelas desprender!... A glória!...A fama!...O orgulho de criar!...
Da vida tenho o mel e tenho os travos No lago dos meus olhos de violetas, Nos meus beijos extáticos, pagãos!...
Trago na boca o coração dos cravos! Boémios,Vagabundos, e Poetas: Como eu sou vossa irmã,ó meus irmãos!...
Florbela Espanca.
Kandandos
Toni Lopes
I. santos Top 20
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José Vieira Mateus da Graça nasceu em Vila Nova de Ourém, Portugal, em 4 de Maio de 1935. Veio para Angola aos três anos de idade na companhia de seus pais que eram colonos portugueses. Foi preso em 1959. Voltou a ser preso em 1961 e condenado a 14 anos de reclusão. Solto em 1972, fixou residência em Lisboa, onde trabalhou numa editora. Regressou a Luanda em 1975. Cargos diretivos no MPLA. Presidente da Radiotelevisão Popular de Angola. Obra de ficção muito premiada. As suas poesias estão dispersas por publicações periódicas e representadas em várias antologias, das quais uma - No Reino de Caliban - reúne toda a sua obra poética.
Canção para Luanda
A pergunta no ar no mar na boca de todos nos: - Luanda onde está?
Silêncio nas ruas Silêncio nas bocas Silêncio nos olhos
- Xê mana Rosa peixeira responde?
- Mano Não pode responder tem de vender correr a cidade se quer comer!
"Ola almoço, ola almoçoéé matona calapau ji ferrera ji ferrerééé"
- E você mana Maria quitandeira vendendo maboque os seios-maboque gritando saltando os pés percorrendo caminhos vermelhos de todos os dias? "maboque, m'boquinha boa dóce dócinha"
- Mano não pode responder o tempo é pequeno para vender!
Zefa mulata o corpo vendido batom nos lábios os brincos de lata sorri abrindo o seu corpo - seu corpo-cubata! Seu corpo vendido viajado de noite e de dia. - Luanda onde está?
Mana Zefa mulata o corpo-cubata os brincos de lata vai-se deitar com quem lhe pagar - precisa comer!
- Mano dos jornais Luanda onde está? As casa antigas o barro vermelho as nossas cantigas trator derrubou?
Meninos das ruas caçambulas quigosas brincadeiras minhas e tuas asfalto matou?
- Manos Rosa peixeira quitandeira Maria você também Zefa mulata dos brincos de lata - Luanda onde está?
Sorrindo as quindas no chão laranjas e peixe maboque docinho a esperança nos olhos a certeza nas mãos mana Rosa peixeira quitandeira Maria Zefa mulata - os panos pintados garridos caídos mostraram o coração: - Luanda está aqui!
fatima berenguel Top 500
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Agora sei, que não sou mais aquela, que bebeu leite no peito de minha mãe. - a que tremeu de medo pela escuridão do velho quarto e tambem a que guardou o segredo do amor sem corpo nas horas inteiras só de um sonho...
Agora sei que não sou mais.
Porque o amor bate temporais nas minhas veias, e o tempo nasce luas e árvores, nos olhos comuns e fundos, porque o meu corpo é uma folha trémula e branca desesperadamente pura, sob a caligrafia firme das tuas mãos suspensas,
é que eu sei, que não sou mais aquela.
Alda Lara (poetisa angolana)
Cazimar Adm/Moderação
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Assunto: Re: Poesia Sáb Mar 20, 2010 10:35 pm
Poema declamado "África"
fatima berenguel Top 500
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Avó MarianaAvó Mariana, lavadeira dos brancos lá da Fazenda chegou um dia de terras distantes com seu pedaço de pano na cintura e ficou. Ficou a Avó Mariana lavando, lavando, lá na roça pitando seu jessu à porta da sanzala lembrando a viagem dos seus campos de sisal.
Num dia sinistro p'ra ilha distante onde a faina de trabalho apagou a lembrança dos bois, nos óbitos lá no Cubal distante.
Avó Mariana chegou e sentou-se à porta da sanzala e pitou seu jessu lavando, lavando numa barreira de silêncio.
Os anos escoaram lá na terra calcinante.
- "Avó Mariana, Avó Mariana é a hora de partir. Vai rever teus campos extensos de plantações sem fim".
- "Onde é terra di gente? Velha vem, não volta mais... Cheguei de muito longe, anos e mais anos aqui no terreiro... Velha tonta, já não tem terra Vou ficar aqui, minino tonto".
Avó Mariana, pitando seu jessu na soleira do seu beco escuro, conta Avó Velhinha teu fado inglório. Viver, vegetar à sombra dum terreiro tu mesmo Avó minha não contarás a tua história.
Avó Mariana, velhinha minha, pitando seu jessu na soleira da senzala nada dirás do teu destino... Porque cruzaste mares, avó velhinha, e te quedaste sozinha pitando teu jessu?
Para lá da praiaBaía morena da nossa terra vem beijar os pezinhos agrestes das nossas praias sedentas, e canta, baía minha os ventres inchados da minha infância, sonhos meus, ardentes da minha gente pequena lançada na areia da praia morena gemendo na areia da Praia Gamboa.
Canta, criança minha teu sonho gritante na areia distante da praia morena.
Teu teto de andala à berma da praia teu ninho deserto em dias de feira, mamã tua, menino na luta da vida.
Gamã pixi à cabeça na faina do dia maninho pequeno, no dorso ambulante e tu, sonho meu, na areia morena camisa rasgada, no lote da vida, na longa espera, duma perna inchada
Mamã caminhando p'ra venda do peixe e tu, na canoa das águas marinhas - Ai peixe à tardinha na minha baía mamã minha serena na venda do peixe pela luta da fome da gente pequena.
fatima berenguel Top 500
Idade : 76 Localização : Lisboa bandeiras dos países : Reputação do usuário :
Assunto: Re: Poesia Dom Mar 28, 2010 4:25 pm
Fernando pessoa e seus heterónios
Isto
Dizem que finjo ou minto Tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto Com a imaginação. Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo, O que me falha ou finda, É como que um terraço Sobre outra coisa ainda. Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio Do que não está de pé, Livre do meu enleio, Sério do que não é. Sentir? Sinta quem lê!
Fernando Pessoa
Não, não é cansaço...
Não, não é cansaço... É uma quantidade de desilusão Que se me entranha na espécie de pensar. É um domingo às avessas Do sentimento, Um feriado passado no abismo... Não, cansaço não é... É eu estar existindo E também o mundo, Com tudo aquilo que contém, Como tudo aquilo que nele se desdobra E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.
Álvaro de Campos
É talvez o último dia da minha vida.
É talvez o último dia da minha vida. Saudei o Sol, levantando a mão direita, Mas não o saudei, dizendo-lhe adeus, Fiz sinal de gostar de o ver antes: mais nada.
Alberto Caeiro
Para ser grande, sê inteiro
Para ser grande, sê inteiro: nada Teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és No mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda Brilha, porque alta vive
Ricardo Reis
Cazimar Adm/Moderação
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Assunto: Re: Poesia Ter Abr 13, 2010 1:04 am
(imagem: Tela Arlette Marques)
Exortação
Hoje! Finalmente hoje Farei dançar o meu corpo Libertado de cadeias antigas!...
Hoje! Finalmente hoje
Poderei chamar Para a minha dança-oração Os guerreiros mortos Em antigas batalhas.
Eu, Inamba Kanina Vos chamo ao som Da minha corneta De chifre de oholongo:
Venham! Venham antigos sobas Manis e makotas!
Venham fidalgos de Matamba De nGola Muatiânvua e Mataman.
Venha do nDongo, nGola Kiluanji! Da Lunda, Muatchisenge Ua Tembo! Venha do Bailundo Ekuikui II! Do Kwanyama, Haimbili!
Venham! Venham todos E se juntem no meu tyipito, Na minha Ombala empobrecida Afim de cantarmos a mbila, A chuva nossa mãe Onkaihamba!
Enfim! Os xingufos Não mais se calarão.
As ngomas voltarão a ter As suas vozes firmes De outrora.
Aiuê Kalunga, Kalunga uê! Que o teu tyinkwani Que nunca se acaba, Caia sobre os nossos corpos suados!...
(Jorge Manuel de Abreu Arrimar - poeta angolano )
fatima berenguel Top 500
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